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domingo, 28 de janeiro de 2018

DE CARA-PÁLIDA PARA CARA-ESPICHADA



Olhando lá do futuro, imagino que alguém vai ver que o grande problema da humanidade foi a briga insana com os relógios e calendários.

Quando crianças, querem ser adolescentes.
Quando adolescentes, querem ser adultos.
Quando adultos, voltam a agir como crianças/adolescentes.
Quando velhos, começam a “malhar” o corpo que nem condenados, espichar a cara até não poder mais e arranjar amantes bem mais novos para disfarçar a idade.

Nesse descompasso, em vez de viver de verdade, todos interpretam personagens tragicômicos (muitas vezes, caricatos).

Para piorar a situação, agora querem aumentar a expectativa de vida para além dos 100 anos. 

Mas pra quê? 

Morra na hora que tiver que morrer, diabo! De preferência, discretamente, sem fazer tanto alarde! Pare de ser ridículo!


domingo, 21 de janeiro de 2018

Indo por aqui (ou por lá)




Os Maias podem ter se enganado: às vezes, tenho a sensação de que o “mundo” acabou para mim entre agosto e setembro de 2013, naqueles 30 dias de internação, quando fui submetido a duas neurocirurgias de alto risco. 
Morri, e meu purgatório particular é ter vindo parar neste tempo estranho. Não me reconheço nele, nem ele me reconhece mais. 
Agora, somos dois estranhos. 
Será que morrer é isso: passar para uma realidade paralela (e bem mais absurda que a anterior)? 


segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

De Maria Callas a Pabllo Vittar (passando por Dercy Gonçalves)




Não sei se essas listagens são verdadeiras, mas dá para refletir um pouco sobre a diferença, não da “qualidade” artística, mas do público. 

Se a segunda lista enumera esses outros artistas do momento, é porque a sociedade foi se tornando mais acomodada intelectualmente, imediatista e, digamos, de “gosto” mais rasteiro? Sinceramente, não sei responder (nem quero). 


Ora, o artista oferece o “peixe” que ele tiver para vender, compra quem quiser. Se, num mercado de peixes, agora o consumidor preferir “sardinha”, que se farte com sardinhas. O menos importante é a sardinha oferecida no mercado ou servida no prato, mas o movimento que os cardumes farão para sobreviver aos ataques dos predadores e, talvez, subverter a ordem estabelecida. O tempo fará a seleção natural. E tudo se ajeitará daqui a pouco. 


O fast-food acabou com a alta culinária? 


O prêt-à-porter acabou com a alta-costura? 


O rock and roll acabou com a ópera? 


Os quadrinhos acabaram com a prosa?

A telenovela acabou com o teatro ou com o cinema? 


Não. 


Cada gênero em seu contexto e com o seu público. Cada geração tem as suas preferências. 


O que não acho bacana (nem saudável) é o patrulhamento. Pois que cada um faça o que bem entender e tente ser feliz dentro daquele seu universo de possibilidades. O meu é o meu. O dos outros, que continue com os outros.


Para encerrar esta minha “profunda reflexão” de início de semana, deixo aqui um desabafo da grande “filósofa” Dercy Gonçalves: 


“Se Deus, que é tão sábio, deu um c... para cada ser, por que diabos eu vou querer cuidar do c... dos outros ou deixar que cuidem do meu c...? Ah, que todos vão tomar no c... deles e me deixem viver em paz com o meu c... de velha!”  


Obs.: na primeira lista, por exemplo, eu jamais colocaria um ou outro artista. Mas é questão de gosto e de referências pessoais. Apenas isso. Não tem cabimento criar uma guerra mundial por causa disso, né? Tem coisa bem mais importante para ser discutida.



segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Roda Gigante, filme de Woody Allen





Já fazia algum tempo que eu não sentia mais tesão em ver os filmes anuais do Woody Allen, aqueles com verbas/patrocínios para mostrar cidades pelo mundo, que mais pareciam um longo e pueril anúncio de turismo. Que bom que o diretor voltou ao seu “reduto” existencial para mostrar cenas do cotidiano. É como se o cineasta reencontrasse suas lentes dos tempos de Mia Farrow, a atriz e ex-mulher dele que dizem ser muito temperamental e problemática. Ótimo que seja uma pessoa temperamental e problemática, pois essas são bem mais interessantes e inspiradoras que as pessoas “normais”. 

Neste novo filme, embora Allen cite nas falas o dramaturgo Eugene O’Neill (sempre cita vários criadores em seus filmes), vi mais outro grande autor em Roda Gigante: Tennessee Williams... nas relíquias de um suposto passado de glória e no delírio etílico da garçonete/dona de casa entediada e adúltera, personagem interpretada pela sempre competente Kate Winslet. Isso me lembrou muito a conturbada Blanche DuBois, da peça Um bonde chamado desejo, do Williams. Os demais atores estavam, como sempre, bem dirigidos por Woddy Allen. 

Vibrei com as discussões realistas e a dramaticidade pungente do filme. 

Assim como na vida real, não há um final feliz em Roda Gigante, porque não existe mesmo final (feliz ou infeliz) na vida das pessoas. Vida é como esse brinquedo dos parques: uma hora põe a gente lá no topo, depois faz quase arrastar os pés no chão. E volta a subir... Mas quem quiser, pode descer ou pular da roda em movimento. Cada um que decida por si a sua hora de parar de “brincar”. Mas a roda, como se nada tivesse acontecido, continuará em movimento. Claro que queremos (ou precisamos) acreditar que tudo vai parar quando descermos... Só que nada vai parar, não. Nem deve. A roda gigante da vida dos outros continuará girando. E o esquecimento se encarregará do resto.