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sexta-feira, 6 de maio de 2016

Minha mãe...

Então... Vendo, desde cedinho, que muitos postaram fotos com suas mães, eu disse: “Vou postar a nossa!” E havia algumas. Tá bom: pelo menos... uma. Juntos, posamos para poucas fotos. Só agora percebi isso. E o tempo que foi passando cada vez mais apurado (em "gauchês", significa apressado, impaciente...), etapas que deixaram de ser registradas em imagens, mas que ficaram bem guardadas na lembrança. 

E cadê a tal foto? 

Vasculhei tudo, e nada... A verdade é que tenho a estranha mania de não guardar por muito tempo fotos em papel. Daí, fui lá, nos baús do Rogério. Quando jogo fora, ele (na surdina) guarda tudo outra vez, mas nas coisas dele. 

Nada, não encontrava foto minha com a mãe. Às vezes, eu guardava fotos em livros. Mas volta e meia, ao me desfazer deles... “adeus fotografias”. Devem andar viajando por aí, de mão em mão. Sei, devia ter mais cuidado... 

UFA! Salvo pelo Rogério: achei! Nesta, já bem antiga, da esquerda para a direita: Tais Freitas​ (prima), Thomás Freitas Pinto​ (primo), Felipe (eu), Negrinha (mãe) e Elizabeth (mana). 




Mas, voltando ao tema... De saúde frágil, minha mãe é uma das mulheres mais guerreiras que já conheci. Decidida. Imponente e feroz até no signo: leão. Dela, fui companheiro de estrada. Como tinha salão de beleza e loja, desde muito cedo, nas férias escolares, ia com ela... feliz da vida... cada vez mais longe (Santa Catarina, Paraná, São Paulo...), buscar mercadorias. Até o dia em que fiz as malas... e saí de casa. 

“Não quero que olhes para trás para ver tua mãe chorando”, foi o que ela me disse. 

Eu tinha 17 anos, queria sair logo do ninho. Quase todos da minha geração queriam isso. Nem bem eu havia colocado os pés em São Paulo, ela me ligou: “Puxa, nem um tchau!” E eu: “Mas tu não me pediste para não olhar para trás?” (“Tu”, porque meus pais detestam ser tratados por “senhores”.)

E foi nesse vaivém de beijos e rusgas que aprendemos a dançar a nossa difícil coreografia familiar. Há dias de amor e fases de muita turbulência. Somos muito parecidos. Ambos com um temperamento do cão. Da mesma forma que rimos, rosnamos um para o outro. Mas, bem no fundo, sei que nos admiramos muito. Um jeito de amar à distância, reconhecendo e respeitando territórios. Sem filtros ou mitos. Amor transparente. Não poderia haver outro sentimento entre dois obstinados, nem eu saberia viver metido num amor melado, convencional e piegas. Em sinal de gratidão, já dediquei vários livros a ela. Muitas mulheres dos meus textos vêm dela, dessa leoa furiosa e passional.

Reconheço que voltei poucas vezes ao Sul. Voltarei em breve (não perguntem quando, porque desisto). Demoro anos, uma década... Voltando, faço “visita de médico” (quatro dias, no máximo; mais que isso, vamos parar nas páginas policiais, na jaula de algum circo ou num hospício... rsrs!)... mas volto. É sempre bom voltar às origens, resgatar memórias, rever paisagens, tentar desatar alguns nós... Enfim, como na música de Astor Piazzolla e letra de Fernando "Pino" Solanas...

Vuelvo al Sur,

como se vuelve siempre al amor,
vuelvo a vos,
con mi deseo, con mi temor.
Llevo el Sur,
como un destino del corazon,
soy del Sur,
como los aires del bandoneon. 
Sueño el sur
Inmensa luna, cielo al reves.
Vuelvo al sur
El tiempo abierto y su despues
Quiero al sur.
Su buena gente, su dignidad.
Siento al sur.
Como tu cuerpo en la intimidad.
Te quiero, sur 
Te quiero, sur...






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