Total de visualizações de página

sábado, 28 de maio de 2016

Vale a pena!!!!!!






Elenco e espetáculo impecáveis... mas a entrega (corpo e alma) da Maria Luisa Mendonça nessa montagem de Um bonde chamado desejo é impressionante! Não é apenas uma grande atriz em cena, é algo inexplicável, um ser que, mais que interpretar com as bênçãos dos deuses do palco, "veste" por completo o teatro, como já escreveu Proust ao ver Sarah Bernhardt em cena. 

O Juliano Cazarré não deixa nada a desejar ao Stanley Kowalski do Marlon Brando (tanto do teatro quanto da versão para a telona). É um ator de total entrega, sem os pudores babacas dos que se deixam engessar pela maldição dos tais galãs de telenovelas. É ATOR e ponto final.

http://www.morenteforte.com/pecas/em-cartaz/bonde-chamado-desejo/

Recomendo MESMO! Tennessee Williams é atemporal. Ou mais que isso: bem atual nestes tempos de machismos e retorno à Idade Média.

"Eu te digo o que eu quero. Magia! Sim, magia! Eu tenho que dar isso pras pessoas. Eu transfiguro as coisas para elas. Eu não digo a verdade. Eu digo o que deveria ser a verdade. E se isso é pecado, então me condenem à danação!" (Blanche DuBois).

Esta prorrogação de temporada vai até 26 de junho. 

Tem que correr lá! Comprar com antecedência... Merecidamente, as sessões lotam!

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Cada um vê o camaleão que pode (ou quer)




A arte não tem uma função óbvia e prática. Não é, por exemplo, como consumir um prato cheio de comida. Ela provoca movimentos, desloca, tem a força transgressora de oferecer bem mais do que os nossos sentidos podem captar de imediato. Aguça lentamente outros canais de percepção do real. 

Não é item de cardápio de "fast-food". Faz parte da alta gastronomia (ainda que, num primeiro momento, o prato nos pareça abjeto/indigesto). Precisa de tempo, paciência e muita entrega (tanto do artista quanto do público). 

Quem ainda não tem esse grau de entendimento, certamente veria neste vídeo do "YouTube" apenas o bicho, a imitação de um réptil. Os intelectualmente limitados/despreparados, apenas duas mulheres nuas, uma exibição indecente que faz apologia à atração/relação lésbica.

Vem desse tipo de pensamento (curto) a ideia equivocada de que artistas são pessoas vagabundas, que vivem do dinheiro alheio. Ora, no fundo, todos nós vivemos de vendas de serviços e/ou mercadorias. 

Cada um vende o que tem de melhor a oferecer. Compra quem quiser e/ou puder.

A propósito, ateus como Michelangelo Buonarroti  e Leonardo da Vinci, graças ao generoso mecenato de religiosos e grandes monarcas, deixaram obras magníficas exatamente sobre o que eles não acreditavam. Exemplos nesse sentido não faltam... Portanto, independente do que é ou deixa de ser o artista (como pessoa), o que vale é o que ele é capaz de produzir. E muitas obras, só com o tempo serão compreendidas.

Arthur Rimbaud ("descoberto" e valorizado apenas depois de morto) que o diga: "Enfant, que fais-tu sur la terre? /  – J'attends, j'attends, j'attends!..." ("Filho, que fazes na Terra? / – Eu espero, espero, espero!..." – Em tradução livre.) 

Levei muito, muito, muito tempo para me reconhecer/assumir como um criador. Foi extremamente difícil e doloroso me libertar dessas vozes: "Um vagabundo, é isso que você quer ser? Por que não arranja um trabalho decente? Vai acabar nas ruas, como um mendigo..."

Até hoje, de vez em quando, elas ecoam na minha mente, fazendo com que eu me sinta culpado por ter esse dom e, por isso, passar a vida inteira nadando contra tudo e todos. E pior: quase sempre vivendo das sobras.


sexta-feira, 13 de maio de 2016

Filme antigo




Collor assumiu a presidência e, em pouquíssimos dias, acabou com a Embrafilme, a Funarte e a cultura em geral. Pensamento é algo perigoso. Tem que ser calado ou mantido com rédea curta.

Bem, mas Collor votou lá, no Senado, a favor do impedimento da Dilma, alegando que ela "usou indevidamente o dinheiro público". Pois é, o mesmo que confiscou a grana de todos nós e tentou calar um país. 

Hoje, filme velho rebobinado, lá se vai novamente a cultura. Repito: pensar é uma ameaça em países em que o povo deve apenas ser adestrado para ser pacífico, obediente e continuar apertando parafusos nas fábricas (de preferência, estrangeiras)! Vejam o lema positivista na bandeira, "ordem e progresso"... Só falta completar, explicando de quem é o progresso, da grande maioria dos brasileiros nunca foi. Vamos lá... Quanto ao "novo" ministério, nem é preciso tecer comentários, basta "dar um Google" em cada nome (mas isso tem que ser feito rápido, antes que os "currículos" sejam reescritos e se tornem exemplares num piscar de olhos). Em paralelo, alguns suspeitos de corrupção já foram (ou estão quase) "inocentados". Mais adiante, saídos de uma reunião com o Temer, dois "homens de Deus" (Malafaia e Feliciano) exibem sorrisos vitoriosos. Em postagem recente, Malafaia comemora o fim do Minc... Com outras palavras, ele alega que "aquilo" era um antro de esquerdopatas.

Pois é... Amigos gays, artistas, pensadores e afins, preparem seus passaportes, vistos, malas, tudo! As fogueiras começam a ser montadas.

Sarcasmo? Não. O tempo mostrará...

Não estou brincando.

Infelizmente, falo sério.

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE 1: Não, nunca captei recursos para projetos via Lei Rouanet. Sim, já recebi vários prêmios em dinheiro, bens (um carro) e em troféus (em "concorrências" públicas e privadas), mas foi graças a qualidade artística dos projetos apresentados. Jamais fui filiado a partidos políticos ou fiz conchavos para ganhar algo. Sim, sou homossexual e tenho um relacionamento fixo há quase vinte anos. Sim, como em qualquer país minimamente desenvolvido, a cultura deve ter mecanismos de financiamento governamental. Não, não sou satanista, uma aberração da natureza, nem esquerdopata (como o sr. Malafaia e outros "homens de Deus" provavelmente queiram me "catalogar")... apenas um contador de histórias que também tem ajudado outros autores (de ficção ou não) a publicar seus livros.

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE 2: Por gentileza, não compartilhem esta postagem; trata-se de um desabafo pessoal, uma indignação... não uma "campanha". Já está publicada, leia quem quiser.



quinta-feira, 12 de maio de 2016

A maldição de Eva



Certa vez, por telefone, a Rose Marie Muraro (uma das feministas pioneiras deste país) me disse que não queria mais saber de escrever sobre as mulheres: 

"Estive lá, no meio daquele inferno criado e dominado pelos homens, lutei que nem louca. E sabe o que consegui? Um câncer que quase acabou comigo."


Camille Paglia, outra intelectual que lutava pelos direitos das mulheres, mas que também acabou desistindo disso, escreveu o seguinte em um ensaio erudito de quase 700 páginas, lançado nos anos 1990, q
ue trata de arte, civilização e sexo (em trechos aqui editados): 

“O corpo feminino é uma máquina ctônica, indiferente ao espírito que o habita. Organicamente, tem uma missão, a gravidez, que podemos passar a vida repelindo. A natureza só se importa com a espécie, jamais com os indivíduos: as humilhantes dimensões desse fato biológico são experimentadas de maneira mais direta pelas mulheres, que provavelmente por causa disso têm maior realismo e sabedoria que os homens. [...] A gravidez demonstra o caráter determinista da sexualidade da mulher. Toda mulher grávida tem o corpo e o ego tomados por uma força ctônica além do seu controle. Na gravidez desejada, é um sacrifício feliz. Mas na indesejada, iniciada por um estupro ou azar, é um horror. Pois o feto [torna-se então] um tumor benigno, um vampiro que rouba para viver. O chamado milagre do nascimento é a natureza dando as cartas. [...] O insuportável mistério do corpo feminino aplica-se a todos os aspectos das relações dos homens com as mulheres. Que aparência terá aí dentro? Ela tem orgasmo? É mesmo meu filho? Quem foi de fato o meu pai? O mistério envolve a sexualidade da mulher. Esse mistério é o principal motivo para o aprisionamento que o homem lhe impôs. [...] A mulher é velada. O despedaçamento violento desse véu talvez seja um dos motivos dos estupros por gangues e assassinatos com estupros [...]. Os crimes sexuais são sempre masculinos, nunca femininos, porque tais crimes são ataques conceitualizadores à inatingível onipotência da mulher e da natureza. O corpo da mulher contém uma célula de noite arcaica, onde todo conhecimento deve parar. Esse é o profundo significado por trás do ‘striptease’, uma dança sagrada de origens pagãs, que, como a prostituição, o cristianismo jamais conseguiu liquidar. As danças eróticas de machos não são comparáveis, pois uma mulher nua leva para fora do palco uma ocultação final, aquela escuridão ctônica da qual viemos.” (Personas sexuais: arte e decadência de Nefertite a Emily Dickinson, Companhia das Letras, 1992, p. 21-22 e 32,)

Por que transcrevi estes trechos aparentemente desconexos da fala da Rose e da obra da Camille? 

Bem, os que estiverem atentos a essa nova-velha onda (mundial) machista, patriarcal, heterocentrada, misógina, sexista etc. entenderão o motivo. 

Mais que disputas/desavenças nas políticas partidárias, o que parece ter (re)começado no Brasil e em outros países (inclusive, nos que são considerados “mais evoluídos” – vejam o que os ultraconservadores estão tentando fazer com Angela Merkel... no caso dos refugiados) é um ataque (já nem tão) velado às conquistas femininas/sociais. 


Estou exagerando? 

Talvez sim... 

Mas, embora não acredite que ela se eleja, penso que Hillary Clinton também será perseguida e destruída tão logo “se atreva” a não seguir a cartilha machista do poder.   

Tomara que eu esteja errado!!!! Aliás, é o que mais tenho dito ultimamente.




sexta-feira, 6 de maio de 2016

Minha mãe...

Então... Vendo, desde cedinho, que muitos postaram fotos com suas mães, eu disse: “Vou postar a nossa!” E havia algumas. Tá bom: pelo menos... uma. Juntos, posamos para poucas fotos. Só agora percebi isso. E o tempo que foi passando cada vez mais apurado (em "gauchês", significa apressado, impaciente...), etapas que deixaram de ser registradas em imagens, mas que ficaram bem guardadas na lembrança. 

E cadê a tal foto? 

Vasculhei tudo, e nada... A verdade é que tenho a estranha mania de não guardar por muito tempo fotos em papel. Daí, fui lá, nos baús do Rogério. Quando jogo fora, ele (na surdina) guarda tudo outra vez, mas nas coisas dele. 

Nada, não encontrava foto minha com a mãe. Às vezes, eu guardava fotos em livros. Mas volta e meia, ao me desfazer deles... “adeus fotografias”. Devem andar viajando por aí, de mão em mão. Sei, devia ter mais cuidado... 

UFA! Salvo pelo Rogério: achei! Nesta, já bem antiga, da esquerda para a direita: Tais Freitas​ (prima), Thomás Freitas Pinto​ (primo), Felipe (eu), Negrinha (mãe) e Elizabeth (mana). 




Mas, voltando ao tema... De saúde frágil, minha mãe é uma das mulheres mais guerreiras que já conheci. Decidida. Imponente e feroz até no signo: leão. Dela, fui companheiro de estrada. Como tinha salão de beleza e loja, desde muito cedo, nas férias escolares, ia com ela... feliz da vida... cada vez mais longe (Santa Catarina, Paraná, São Paulo...), buscar mercadorias. Até o dia em que fiz as malas... e saí de casa. 

“Não quero que olhes para trás para ver tua mãe chorando”, foi o que ela me disse. 

Eu tinha 17 anos, queria sair logo do ninho. Quase todos da minha geração queriam isso. Nem bem eu havia colocado os pés em São Paulo, ela me ligou: “Puxa, nem um tchau!” E eu: “Mas tu não me pediste para não olhar para trás?” (“Tu”, porque meus pais detestam ser tratados por “senhores”.)

E foi nesse vaivém de beijos e rusgas que aprendemos a dançar a nossa difícil coreografia familiar. Há dias de amor e fases de muita turbulência. Somos muito parecidos. Ambos com um temperamento do cão. Da mesma forma que rimos, rosnamos um para o outro. Mas, bem no fundo, sei que nos admiramos muito. Um jeito de amar à distância, reconhecendo e respeitando territórios. Sem filtros ou mitos. Amor transparente. Não poderia haver outro sentimento entre dois obstinados, nem eu saberia viver metido num amor melado, convencional e piegas. Em sinal de gratidão, já dediquei vários livros a ela. Muitas mulheres dos meus textos vêm dela, dessa leoa furiosa e passional.

Reconheço que voltei poucas vezes ao Sul. Voltarei em breve (não perguntem quando, porque desisto). Demoro anos, uma década... Voltando, faço “visita de médico” (quatro dias, no máximo; mais que isso, vamos parar nas páginas policiais, na jaula de algum circo ou num hospício... rsrs!)... mas volto. É sempre bom voltar às origens, resgatar memórias, rever paisagens, tentar desatar alguns nós... Enfim, como na música de Astor Piazzolla e letra de Fernando "Pino" Solanas...

Vuelvo al Sur,

como se vuelve siempre al amor,
vuelvo a vos,
con mi deseo, con mi temor.
Llevo el Sur,
como un destino del corazon,
soy del Sur,
como los aires del bandoneon. 
Sueño el sur
Inmensa luna, cielo al reves.
Vuelvo al sur
El tiempo abierto y su despues
Quiero al sur.
Su buena gente, su dignidad.
Siento al sur.
Como tu cuerpo en la intimidad.
Te quiero, sur 
Te quiero, sur...