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quinta-feira, 24 de abril de 2014

Dia do autor guerreiro



23 de abril: dia de São Jorge!

23 de abril de 1616: Miguel de Cervantes morreu nessa data (Shakespeare, também). E, em 1995, a Unesco instituiu o “Dia Mundial do Livro e Direito do Autor".

Nada mais apropriado: o santo abre caminho para que Dom Quixote possa enfrentar seus dragões diários (imaginários ou não).

Hoje, cada vez mais quixotescos, nós, os contadores de histórias, seguimos em frente, desbravando caminhos obscuros. Mas, infelizmente, sem poder contar com a retaguarda de um amigo leal, como Sancho Pança. Sozinhos. Sempre.

Salve, São Jorge! Salve, Cervantes! Salvem-nos!


terça-feira, 22 de abril de 2014

Xô, capeta!



Ontem de manhã, indo para a Paulista, deparamos com uma cena, no mínimo, dantesca. Na avenida Europa, conhecida região de revendedoras de carros de luxo, havia um homem com um cesto na mão, sendo filmado por uma mulher. Não dava para ver o que tinha no interior do cesto, nomes escritos em papéis, talvez. Mas o que ele falava era mais ou menos isso:

“Estamos aqui, na frente desta vitrine da Ferrari, minha irmã e meu irmão, porque o nosso Deus do impossível quer o melhor pra você e sua família. Não é um Deus de miséria, não. É um Deus de muita fartura e blablablá.”

Por pouco não desci o vidro para perguntar:

“Por favor, o senhor poderia me dizer onde fica a Oscar Freire, rua famosa em que Jesus comprou aquela túnica Prada e a coroa de ouro maciço, crivada de diamantes da Tiffany?”

Mas é claro que não ia ser uma boa ideia; ele certamente viria com a Bíblia em punho para exorcizar o “herege” que se atreveu a “insultar” o Filho de Deus.

Ah, me poupe!



quinta-feira, 3 de abril de 2014

Somos corruptos, mas de “boa” índole

Infelizmente, não é raro receber solicitações de exemplares. Em cortesia, claro. Tanto de livros meus quanto de autores da editora. E grande parte dos pedidos vem de educadores. Como se fosse um produto barato (em termos de produção) e com grandes “sobras” para distribuição gratuita de livros impressos.

Quanto ao formato digital, em breve (e aos poucos), minha editora começará a transformar boa parte do catálogo em e-books. Já contatamos alguns autores, nem todos aceitaram o “desafio”. Sim, desafio, porque há um grande risco de as obras irem parar na internet, sem controle de download. Embora os distribuidores e as plataformas importantes utilizem o DRM (um dispositivo Adobe para controlar cópias piratas, impressão de conteúdo, vendas etc.), um professor-autor alertou que isso não é o bastante para proteger a obra. De fato, na própria internet há vários sites que oferecem programas gratuitos para “quebrar DRM”.

Claro que o problema de pirataria sempre existiu e existirá, já que é mais por uma questão de índole do que “por culpa do custo elevado” de determinados produtos. Já tive, por exemplo, um  professor universitário que disponibilizou sua obra na famosa “pastinha de xérox”... para que os alunos a copiassem à vontade.

“Mas, professor, é a sua própria obra!”, reclamei (detalhe: eu era o editor daquele livro, tbém estava sendo prejudicado com aquela pirataria).

A resposta dada pelo autor foi: “Fazer o quê, se eles vão copiar de qualquer jeito? Pelo menos, que seja do meu exemplar”.

Hoje, com os avanços da informática, xérox já é quase coisa do passado. Tudo é virtual, rápido e, de preferência, sem custo.

Diferente do que acontece nas escolas (onde os alunos são obrigados a adquirir uma pilha de livros e/ou o governo fornece por meio de programas do MEC), nas universidades, copiar obras é uma prática “tradicional”. Professores (autores ou não) fazem vistas grossas à Lei de Direitos Autorais, porque, na prática, não podem evitar esse tipo de atitude. Até os próprios educadores copiam obras sem autorização, conforme reza a lei.

Lei?

Que lei?

Ora, quase ninguém conhece a Lei de Direitos Autorais. (Aliás, devia ser ensinada nas escolas e universidades.)

Daí, é aquela eterna bola de neve: “livro é caro demais, porque é pirateado. E é pirateado, porque é caro demais”.

Mas é caro mesmo (mais que a bebedeira nos botecos às sextas-feiras em torno das faculdades)? No caso de versões digitalizadas, os preços caem em torno de 30% (até mais). No entanto, continuam sendo pirateadas. É preço ou descaso, exatamente, com o que se está buscando nas academias: conhecimento? Conhecimento é algo sem importância, que merece ser “saqueado”? E os autores, os editores, todo o investimento feito para que aquela obra chegasse às mãos do consumidor final, nada disso teve um custo, foi tudo de graça? E mais: aquele autor (cantor, ator, diretor, escultor, pintor etc.) do qual somos fãs, mas tão fãs, que vamos roubar o seu ganha-pão, pirateando suas obras maravilhosas, que mudaram nossas vidas! Puxa, troquemos rápido, então, de ídolos; não mudamos para melhor, não! Continuamos mesquinhos!

Definitivamente, não consigo entender essa lógica... Se gosto e/ou preciso de algo, faço questão de pagar por aquilo. Comprar uma cópia barata é o mesmo que passar um recibo de incapacidade de conseguir algo superior. Se meu bolso anda meio vazio e não posso comprar o “produto novo”, garimpo sebos e/ou bibliotecas públicas. No limite, peço emprestado a alguém. É o mínimo. É uma questão de respeito ao autor/artista.

E o que mais me deixa abismado é saber que muitos “piratas” têm saído às ruas para reivindicar por um país (até um planeta) livre de corrupção.

Por acaso, corrupção (no sentido mais amplo da palavra) é só a “dos outros”?