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domingo, 22 de janeiro de 2012

O golpe das sacolas plásticas!

Supermercadistas se reúnem e decidem acabar com a distribuição de sacolas plásticas. Por enquanto não é lei, apenas acordo entre varejistas. A partir de agora, para sair com suas compras dentro de sacolas "ecologicamente corretas", é preciso desembolsar cerca de R$ 0,20 por unidade. 

Sim, concordo que devemos mudar de hábitos, evoluir, pensar mais nas consequências ao meio ambiente etc. Entretanto, além de não haver redução nos preços dos produtos (que já rateavam o custo das antigas sacolinhas nas mercadorias; portanto, elas nunca foram entregues “de graça” ao consumidor), os supermercados ainda vão lucrar com as vendas de ecobags (nome “chique” dado pelos americanomaníacos emergentes às antigas sacolas de feira) e sacos biodegradáveis. Ou seja: como sempre, tais decisões, longe de beneficiar a natureza ou o que for, visam somente o aumento do lucro. 

Ora, como qualquer outro comércio, a obrigação de embalar a mercadoria é de quem vende, não do comprador (ainda que não seja por lei, é, no mínimo, um gesto cordial). Ou você sairá das lojas com o vestido, camiseta, sapato, qualquer outra compra enfiada na bolsa ou na mochila? Será que as madames levarão "sacolas de feira" para carregar suas aquisições no Iguatemi, Oscar Freire, Daslu etc.? Confesso que adoraria ver, mas...
 
Tudo bem, as sacolas das lojas costumam ser de papel. Ora, e as árvores? As florestas? O desmatamento? Outro detalhe técnico: a maioria recebe revestimento plástico para proteger a tinta e/ou dar maior resistência ao papel/cartão.

Curiosidade: carne, legumes, frutas... Será que agora vão nos entregar em jornais, como era antigamente? E em casa, para recolher o lixo, não teremos que comprar outros sacos para substituir as sacolas plásticas, que, insisto, continuaremos pagando (o custo continuará no rateio dos produtos), mas não poderemos mais levar? Ou voltaremos a usar as velhas latas de lixo? Não seria má ideia, porém teríamos que comprar toneladas de latas para substituir as que seriam “subtraídas” para a reciclagem...   

É claro que não sou contra o fim das sacolas plásticas, mas me revolto com esse corporativismo disfarçado de "ação ecologicamente correta". Já não compro há muitos anos no Pão de Açúcar (por não suportar o atendimento arrogante de seus funcionários), nem no Carrefour (que, inexplicavelmente, “dá sumiço” nos créditos da Nota Fiscal Paulista). Agora, apenas comprarei em supermercados que forneçam sacolas biodegradáveis “de graça”. Ou ofereçam desconto no total da compra se eu levar minha própria sacola de feira.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Rio: "Mulheres sonharam cavalos"

Já comentei que por muito tempo fugi de espetáculos teatrais por achar tudo muito convencional, previsível e até mesmo desnecessário. Havia muito exagero, atores que faziam caras e bocas, grasnavam feito gralhas loucas em cena. Eram tudo, exceto "personagens". No cinema nacional tbém é comum ver direções/atuações desse tipo (bem diferente, por exemplo, das atuais produções hispânicas -- até mesmo portuguesas). Tvz essa nossa tendência ao "over" venha lá de trás; a Companhia Cinematográfica Vera Cruz trouxe muitos diretores e técnicos da antiga Cinecittà, com técnicas de dublagem em vez de som direto, certos exageros/vícios típicos dos artistas italianos... porém que ficam muito bem "neles" (apenas "neles"!). É provável que tenhamos absorvido esse modo afetado de encenar/filmar dos italianos. Tbém tem o teatro de revista, as vedetes, as chanchadas etc. Não, não sou pesquisador do assunto. Sei é que não gosto desse tipo de produto/obra. Assim como tbém não consigo me empolgar com a maiorida das produções hollywoodianas. De musicais, então, corro (cinema e/ou teatro).
No entanto, em 2011 voltei a me animar com algumas montagens teatrais: "Silêncio depois da chuva", de Gustavo Colombini, direção de Leonardo Moreira; "O melhor do homem", de Carlota Zimmerman, direção de Djalma Thurler...
E, mesmo à distância, tenho acompanhado os trabalhos (e a pesquisa cênica) de Ivan Sugahara. Ou melhor: a inquietação deste Artista. Curto arte que, como diria o Caio Fernando Abreu, "desrevela". Não sou de ficar contemplando nada. Sou "das cutucadas"... dadas e recebidas. No mais, me entedio. Prefiro uma boa dose de vodca pura. Deixo então a seguinte dica para quem estiver no Rio: MULHERES SONHARAM CAVALOS, com temporada prorrogada no Teatro Poeirinha, de 06/jan até 26/fev. Segue uma das críticas... (Clique na imagem para ampliar!)

domingo, 1 de janeiro de 2012

Casa vazia


De uns tempos pra cá, tenho sonhado o mesmo sonho toda noite. Passado que revisito em cenas reinventadas. E tudo acontece dentro de uma casa antiga, grande, com muitos cômodos, mas vazia. Algumas figuras conhecidas vagam na penumbra. De vez em quando, o silêncio é rompido por um desabafo, um gemido, um grito. Da janela, dá para ver o céu carregado de nuvens incandescentes. Rápidos e multicoloridos relâmpagos serpenteiam por cima e ao redor dos edifícios... e logo voltam a se esconder na escuridão.
    — Vai acabar hoje — alguém diz debruçado na janela.
    — Hoje, o quê? — pergunto.
    — Vai acabar, não vê? — outra voz rebate, quase gritando.
    Insisto: — O mundo, o mundo é que vai acabar?
    Salta do fundo da sala numa voz rasgada, baforadas de cigarro riscando silhueta de ondas no ar: — Esta história.
    — Qual história? — quero saber.
    Mas a resposta não vem. Alguns vultos se calam. Outros desaparecem. Tento acordar. Com muito esforço, consigo abrir os olhos. Porém, dentro de outro sonho, vejo minha cama, meu corpo no escuro de um quarto que não é o meu. Então fico lá no alto, como se flutuasse, vigiando meu sono. Angustiado, gesticulo. Sei que é sonho; quero despertar. O corpo não reage. Estou aprisionado nesse pesadelo. E quando faço força para me desvencilhar dele, acabo caindo em outro ainda mais esquisito e assustador. Alguns sonhos são verdadeiros pântanos que nos engolem vivos. É mais ou menos como visitar a nossa própria morte. Ensaio forçado. Um mergulho na solidão que nos trouxe e nos levará de volta ao vazio.